Aterosclerose, a inimiga do coração

sábado, 12 de janeiro de 2013

Fonte http://www.einstein.br/einstein-saude/pagina-einstein/Paginas/aterosclerose-a-inimiga-do-coracao.aspx

Principal causa de problemas coronarianos, como angina e infarto, a aterosclerose é uma doença provocada pelo depósito de placas formadas principalmente por gordura e cálcio nas paredes internas das artérias, diminuindo o diâmetro e dificultando a passagem do sangue. As placas se formam quando o colesterol circulante no sangue – mais especificamente o LDL, o “ruim” – se deposita nas paredes internas das artérias.
Isso pode acontecer por dois mecanismos. “Um deles está relacionado a distúrbios genéticos. Algumas pessoas possuem na superfície das artérias uma grande concentração de receptores do LDL, que captam o colesterol “ruim” para dentro delas. É isso que faz com que indivíduos com níveis de colesterol considerados normais tenham aterosclerose. E também existe o oposto, pessoas com alto nível de LDL que não têm aterosclerose por causa do baixo nível de receptores de LDL nas artérias, ou seja, têm uma proteção natural”, explica o Dr. Carlos Vicente Serrano Júnior, cardiologista do Einstein e do Instituto do Coração (InCor). “O outro mecanismo de formação das placas é pelo enfraquecimento da superfície das artérias provocado pela presença de fatores de risco, tais como colesterol alto, hipertensão, diabetes e tabagismo, além de obesidade, sedentarismo e estresse”, acrescenta o médico.
Ao longo dos anos, a formação de placas tende a se intensificar com a exposição aos fatores de risco. Por isso, a incidência da doença aumenta com a idade. Nos homens, o problema se acelera a partir dos 45 anos; nas mulheres, dos 55, pois até a menopausa elas contam com os hormônios femininos que as protegem contra a formação de placas de aterosclerose. O risco é 50% maior em pessoas que têm parentes de primeiro grau com histórico de doenças cardiovasculares.
Com as placas que se formam no interior das artérias, o fluxo do sangue diminui, chegando ao coração em quantidades menores que o necessário. Esse problema recebe o nome de isquemia, e o desconforto a ela relacionado se chama angina. A pessoa tem uma sensação de aperto ou pressão na região central do peito, que pode se irradiar para o braço esquerdo. Esse desconforto é desencadeado por esforço, emoção ou estresse, melhorando quando a pessoa relaxa ou com a administração do nitrato sublingual. “Muitas vezes ocorrem sintomas atípicos, como enjoo, dor nas costas ou no ombro, que podem confundir o diagnóstico, sendo mais comuns em mulheres, idosos, diabéticos e orientais. Por isso, em pacientes com fatores de risco, qualquer sintoma novo tem de ser valorizado”, afirma o Dr. Serrano.
Quando a placa aumenta de tamanho (o que pode ocorrer rapidamente), ela se rompe, favorecendo a entrada de plaquetas e hemácias numa somatória de elementos que provoca a oclusão da artéria e, em consequência, o infarto agudo do miocárdio.

Diagnóstico

Como o LDL é o responsável pela formação das placas de gordura, é essencial realizar periodicamente exames de dosagem de colesterol no sangue. Quando necessário, podem também ser feitos os de imagem, como a tomografia computadorizada para cálculo do escore de cálcio coronário, a angiotomografia e a ultrassonografia das carótidas, que permitem a detecção precoce das placas de aterosclerose.
Níveis elevados de LDL em indivíduos portadores de fatores de risco e para os que já tiveram alguma doença coronariana tornam obrigatório o uso de medicamentos. Hoje, as estatinas são a principal “arma” no combate ao colesterol “ruim” e, por consequência, à aterosclerose e às doenças coronarianas, podendo reduzir em até 50% o risco de infarto.
“As estatinas entraram no mercado em 1987 e revolucionaram a cardiologia. Elas reduzem significativamente o colesterol, diminuindo, portanto, a aterosclerose, os riscos de angina e infarto e a necessidade de cirurgias de revascularizaçao (ponte de safena/mamária e angioplastia). A aterosclerose está associada também ao acidente vascular cerebral, embora nesse caso a principal causa seja a hipertensão arterial”, afirma o Dr. Raul Dias dos Santos Filho, cardiologista assessor do Centro de Medicina Preventiva do Einstein e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ele destaca que as estatinas têm seus efeitos constatados em estudos controlados com mais de 170 mil pacientes. “Cada 40 mg que reduzimos de LDL por decilitro de sangue diminui os riscos em 22%, em média. E o impacto do tratamento será proporcionalmente maior nos pacientes de risco mais elevado”, acrescenta o médico.
A aspirina é administrada em episódios agudos junto com outros medicamentos (como o clopidrogel), que têm ação contra a agregação plaquetária. Mas também pode ser adotada no tratamento de rotina junto com as estatinas em pacientes que já tiveram infarto ou angina ou nos que têm colesterol muito alto e fatores de risco associados. “Boa parte dos casos, porém, pode ser tratada apenas com as estatinas, que apresentam ótimos resultados na redução do colesterol e baixo índice de efeitos colaterais”, observa o Dr. Raul.
Medicamentos como a ezetimiba (que age no intestino diminuindo absorção do LDL) e a niacina (uma vitamina que aumenta o HDL, o colesterol “bom”) podem ser administradas junto com as estatinas, ampliando os efeitos positivos.
Em casos de obstruções mais graves das artérias, o recurso são as angioplastias sem ou com stent (e, mais recentemente, os stents farmacológicos, que são cobertos com medicamentos e reduzem bastante o risco de a artéria se fechar novamente meses após o procedimento), e as cirurgias abertas para revascularização por meio de pontes de safena e/ou mamária.
Além disso, vale lembrar que novas drogas estão em desenvolvimento. Um grupo de medicamentos que já vem sendo testado em pacientes em estudos controlados são os inibidores da proteína transferidora de ésteres de colesterol, que atuam aumentando o colesterol “bom” (HDL) e baixando o “ruim” (LDL). Esses estudos deverão mostrar se essas drogas trazem (ou não) efeitos positivos superiores aos já obtidos com as estatinas. Outro medicamento que deve chegar ainda este ano a alguns mercados, como o norte-americano e europeu, com indicação para quem tem colesterol muito alto de origem genética, é o mipomersen, que ‘engana’ o código genético do organismo, bloqueando a produção do colesterol. Outra linha de pesquisa deve gerar frutos num prazo mais longo, em torno de 5 ou 6 anos. São anticorpos que, agindo sobre uma proteína do fígado, ajudariam a baixar o colesterol em mais 60% em relação às estatinas.
Inovações que possam agregar ainda mais benefícios que os proporcionados pelas estatinas são certamente bem-vindas. Mas o melhor caminho para evitar a aterosclerose e as doenças a ela associadas é a prevenção. É bem verdade que não se pode mudar a genética ou impedir o avanço da idade, mas atitudes saudáveis, como controlar colesterol, hipertensão e diabetes, abandonar o cigarro, adotar uma dieta pobre em gorduras animais e praticar atividade física, podem fazer toda a diferença.

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