O QUE É A RESSACA?
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Fonte mdsaude
O álcool é uma das drogas mais consumidas em todo o mundo. Os mais
recentes dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que cerca
de 30% dos homens e 10% das mulheres no Brasil consomem álcool em
excesso pelo menos uma vez por semana. Além disso, quase 80% dos jovens
referem consumir bebidas alcoólicas regularmente.
Para entender a ressaca é preciso antes saber por que ficamos bêbados
e quais os efeitos do excesso de álcool no organismo. Portanto, antes
de falarmos propriamente da ressaca, vamos revisar o que acontece com
álcool após o mesmo ser ingerido.
Como o álcool é metabolizado no organismo?
Quando comemos ou bebemos uma substância qualquer, ela passa basicamente por três estágios: digestão, absorção e metabolização pelo fígado. Ou seja, todo alimento que é absorvido pelo trato gastrointestinal obrigatoriamente passa pelo fígado antes de alcançar qualquer outro órgão. Isso vale para alimentos, álcool, remédios, drogas, etc. O fígado é uma espécie de centro de tratamento das substâncias ingeridas. Nada chega à circulação sanguínea central sem antes ter sido processado pelo fígado. O nome desse processo é “metabolização hepática”.
Dentre
os vários papeis da metabolização hepática, um deles é inativar
substâncias tóxicas que tenham sido ingeridas, como álcool (etanol), por
exemplo.
Na verdade, o processo de metabolização hepática do álcool é curioso, pois, como o fígado humano não produz uma enzima que neutralize diretamente o álcool, ele primeiro o transforma em acetaldeído, e só depois em ácido acético, que é um metabólico não ativo e não tóxico. Aqui surgem dois problemas, o primeiro é que o acetaldeído é uma substância mais tóxica que o próprio álcool; o segundo é que o acetaldeído só é inativado em ácido acético após uma segunda passagem pelo fígado.
Resumindo, consumimos álcool, mas antes do mesmo
chegar à circulação sanguínea central, o fígado o transforma em
acetaldeído, uma substância ainda mais tóxica. Só depois de rodar todo o
organismo e retornar ao fígado é que finalmente o álcool ingerido
(agora sob a forma de acetaldeído) consegue se inativado para a forma do
inócuo ácido acético.
Após bebermos álcool, o resultado final é o
seguinte: 92% do etanol ingerido é metabolizado e inativado pelo
fígado, 3% é eliminado na urina, 5% é eliminado pelos pulmões na
respiração (daí o teste do bafômetro) e menos de 1% sai na pele através
do suor.
Obs: O acetaldeído é um carcinogênico (substância que
causa câncer) e pode levar à lesão do fígado se a exposição for
frequente e prolongada.
Por que ficamos bêbados?
Bom, até aqui já aprendemos que o
álcool, que é uma substância tóxica, após ser ingerido é transformado em
um outro elemento ainda mais tóxico antes de circular por todo o corpo.
Mas o problema não termina aí. A absorção do álcool pelos intestinos é
muito mais rápida do que a capacidade do fígado de metabolizá-lo. O
fígado só consegue metabolizar o equivalente a 10 gramas de álcool por
hora, o que é menos que uma 1 taça de vinho ou 300 ml de cerveja, que
possuem cerca de 12 gramas de álcool. Portanto, se tomarmos o
equivalente a 5 taças de vinho, o corpo vai demorar, em média, 6 horas
para eliminar todo esse volume. Isso significa que após um consumo
exagerado de álcool, por várias horas nosso organismo vai ter que lidar
com duas substâncias altamente tóxicas circulando no sangue: álcool e
acetaldeído.
Quando estamos de estômago cheio, a absorção de
etanol fica mais lenta, dando mais tempo ao fígado para metabolizar o
álcool que chega. Por isso, a intoxicação por etanol é mais intensa
quando bebemos em jejum. Bebidas alcoólicas gasosas são absorvidas mais
lentamente e alimentos ricos em proteínas ou em açúcar reduzem a
absorção do álcool.
O álcool age em todo organismo, mas os seus
efeitos mais visíveis são no cérebro, principalmente durante uma
intoxicação aguda. Em pequenas quantidades, o álcool tem ação
estimulante, levando à euforia, desinibição e maior interação social.
Pequenas doses já afetam a coordenação motora e a capacidade de
concentração. Conforme o nível de álcool se eleva, a capacidade de
julgamento fica alterada e surgem os comentários e as ações impróprias.
Doses maiores de álcool e acetaldeído na circulação intoxicam os
neurônios, levando à inibição do funcionamento do sistema nervoso.
Conforme a concentração sanguínea se eleva, o paciente vai passando
pelas seguintes fases: letargia, sonolência, redução do nível de
consciência, coma e, eventualmente, morte.
Portanto, estar bêbado
significa estar com os neurônios intoxicados por álcool (e acetaldeído).
Os sintomas da bebedeira duram até o fígado conseguir neutralizar todo o
álcool e o acetaldeído que circulam no sangue, o que já vimos que pode
levar horas.
O que é a ressaca?
A noite acabou e você se
depara com luz do sol ardendo nos seus olhos. A boca está seca e com
gosto amargo. Você tenta se levantar e nota ainda uma tontura residual e
uma fraqueza nas pernas. Neste momento, você repara que uma terrível
dor de cabeça lhe atormenta. Como se não bastasse, ainda há um mal estar
terrível e uma náusea que só não provoca vômitos porque o seu estômago
está completamente vazio. Você corre para o banheiro e nota que está com
diarreia, mas as fezes têm um cheiro diferente do habitual. Parece
cheiro de … álcool. Sua mente está um nevoeiro e os detalhes da festa da
noite passada são apenas flashes. Isso lhe soa familiar?
Pois
isso é nada mais do que os sintomas da ressaca, o resultado final de
horas de exposição a substâncias tóxicas. Na verdade, a ressaca
habitualmente surge quando o nível de álcool no sangue já está bem
baixo, quase zero, após intenso trabalho de limpeza feito pelo fígado.
A ressaca parece ocorrer basicamente por três motivos:
1) Intoxicação pelo acetaldeído.
2) Queda da glicose sanguínea (hipoglicemia).
3) Desidratação.
2) Queda da glicose sanguínea (hipoglicemia).
3) Desidratação.
1)
O acetaldeído chega a ser até 30 vezes mais tóxico às células do que o
etanol. No caso de um consumo exagerado de álcool pode haver presença
deste metabólito tóxico na circulação ainda por várias horas após o
indivíduo ter parado de beber. Grande parte do mal estar da ressaca é
por consequência da exposição prolongada das células ao acetaldeído, o
que provoca uma espécie de inflamação generalizada do organismo. Além
disso, os neurônios ficam intoxicados, o que atrapalha o estabelecimento
de um padrão adequado de sono. O sujeito fica sonolento, mas a
qualidade do seu sono é ruim, mantendo-o cansado.
2) O processo de
metabolização do etanol envolve vias enzimáticas do fígado que também
participam da produção de glicose, principalmente em períodos de jejum.
Como essa enzimas estão ocupadas metabolizando o etanol, temos uma queda
no nível de glicose para o cérebro e outras regiões do organismo. Daí
surgem os sintomas de fraqueza e mal-estar.
3) Um dos efeitos
adversos do etanol no cérebro é inativar a produção de um hormônio
chamado ADH (hormônio antidiurético). Os rins filtram em média 180
litros de sangue (água) por dia. Graças ao hormônio ADH, destes 180
litros filtrados, urinamos apenas 1 ou 2 por dia. O ADH é um dos
principais mecanismos de controle da quantidade de água corporal. Quando
ele é inibido, toda água que passa pelos rins acaba sendo eliminada na
urina. Por isso, alguns minutos após o ingestão de álcool, começamos a
urinar o tempo todo. Já reparou como é clara a urina após consumo de
bebidas alcoólicas? Isso ocorre porque neste momento sua urina é
basicamente água pura. Esse efeito diurético leva à desidratação, que
causa os sintomas de boca seca, sede, dor de cabeça, irritação e
câimbras.
O ADH só volta a ser produzido pelo sistema nervoso
central quando os níveis de álcool tornam-se baixos, geralmente após
horas de eliminação excessiva de água.
Como evitar a ressaca?
A resposta óbvia é: não beba. Mas imagino que não seja isso que você está querendo saber.
O
risco de ressaca é maior quando há um consumo de pelo menos 4 taças de
vinho ou 4 latas de cerveja (ou o equivalente em álcool de qualquer
outra bebida) no intervalo de 2 horas. Está é uma quantidade de álcool
consumido acima da capacidade de metabolização hepática, promovendo
grande liberação de acetaldeído para a corrente sanguínea.
Como já
dito, beber mais devagar e depois de ingerir alimentos ricos em
proteínas e carboidratos diminui a velocidade de absorção de álcool
pelos intestinos, dando tempo para o fígado metabolizar o álcool que vai
sendo consumido. O ideal é comer antes de começar a beber. Depois de
bêbado, o álcool já foi todo absorvido, comer só vai aumentar o risco de
você vomitar. Todavia, nada impede que você belisque durante a festa
enquanto bebe, pois isso ajuda a retardar a absorção do álcool.
Beber
muita água antes, durante e depois da festa talvez seja a melhor dica.
Toda vez que você for ao banheiro urinar, beba algo não alcoólico, seja
água, suco ou refrigerantes (com açúcar de preferência).
Curiosamente,
bebidas mais escuras – como uísque, vinho tinto, tequila (que não é tão
escura) e conhaque – geralmente causam ressacas piores do que o vinho
branco, cerveja ou bebidas claras, como vodca ou gim. Porém, isso de
modo algum significa que cerveja ou vodca não provoquem ressaca.
Tomar
medicamentos anti-ressaca, como Engov, antes de beber tem pouco
fundamento científico. São drogas que misturam substâncias contra
náuseas, analgésicos e cafeína, tentando amenizar alguns dos sintomas da
ressaca. O problema é que o seu efeito já não é tão grande muitas horas
depois de tomado, e alguns deles ainda contêm anti-inflamatórios ou
aspirina, que são substâncias que irritam o estômago. O Engov (ou
similares) não age sobre a desidratação, sobre a hipoglicemia, nem sobre
a irritação que o acetaldeído provoca nas células.
Além de não
funcionarem bem como prevenção da ressaca, esses medicamentos ainda
podem estimular o indivíduo a beber mais, pois o mesmo passa a achar que
está protegido contra os efeitos maléficos de um consumo exagerado de
álcool.
Como curar a ressaca?
Beba muitos líquidos ao
acordar. A não ser que você esteja habituado a beber café de manhã, o
ideal é evitá-lo, pois a cafeína também é um diurético. Água e sucos são
o ideal. Isotônicos (tipo Gatorade) também podem ser usados.
Não
existe remédio que cure ressaca nem que acelere o metabolismo do etanol.
De nada adianta banho frio, café, chás, produtos com cheiro forte ou
qualquer outra medicação caseira. O importante é hidratação,
carboidratos e bastante repouso. Habitualmente, a ressaca melhora até o
final do dia.
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