Hepatite C: arsenal reforçado contra o inimigo

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Fonte: http://www.einstein.br/einstein-saude/pagina-einstein/Paginas/hepatite-c-arsenal-refor%C3%A7ado-contra-o-inimigo.aspx
Avanços em medicamentos e diagnóstico aumentam a efetividade do tratamento da doença
Novas drogas e recursos diagnósticos vêm ampliando o arsenal médico para tratar a hepatite C, doença inflamatória do fígado que atinge cerca de 3% da população brasileira. Causado por um vírus que age quase sempre silenciosamente lesionando o tecido hepático, o mal pode evoluir para cirrose e desta para câncer de fígado. Dos casos de transplantes desse órgão, 90% estão relacionados à cirrose, metade dos quais provocados pela hepatite C.
A transmissão do vírus ocorre pelo contato com o sangue contaminado – principalmente via transfusão de sangue, compartilhamento de seringas e agulhas e materiais mal-esterilizados usados por profissionais como médicos, dentistas, tatuadores e manicures.
Quem fez transfusão antes dos anos 90 deve ter atenção redobrada, pois os métodos de análise disponíveis até então permitiam identificar alterações nas enzimas do fígado, mas não o vírus. Por conta disso alguns portadores que não apresentam essas alterações eram admitidos como doadores nos bancos de sangue. Outro grupo que tem estar atento são as pessoas que hoje estão na faixa dos 50 anos e que, quando jovens, fizeram uso do Glucoenergan, um energético injetável usado por quem praticava esportes ou queria virar a noite estudando. A medicação era aplicada em farmácias, com o uso de seringas de vidro nem sempre submetidas à correta assepsia.
O diagnóstico de contato com o vírus é feito por um simples exame de sangue.  Caso positivo, o médico solicitará a carga viral do vírus da Hepatite C por PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), exame que indica a carga viral, e outros necessários para planejar o tratamento. Dentre os indivíduos que têm contato com o vírus, apenas 15% conseguem eliminá-lo naturalmente. “Dos restantes, 75% precisarão de algum tipo de tratamento. Porém, todos que têm o diagnóstico de contato devem fazer o acompanhamento com exames periódicos de PCR, pois o vírus indetectável em um período pode tornar-se detectável em outro”, afirma o Dr. Marcio Dias de Almeida, gastroenterologista e hepatologista do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Segundo ele, esse exame vem sendo aprimorado ano a ano. Se antes só detectava concentração viral acima de 600 vírus por mililitro de sangue, hoje permite identificar até 10 vírus por mililitro.

Novas drogas

Até agora, o tratamento padrão-ouro da hepatite C era feito com os antivirais interferon peguilado e ribavirina. Mas duas novas drogas recém-aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – o beceprevir e o telaprevir – agregam uma importante evolução. Trata-se de uma nova classe de antivirais que inibem a protease, enzima que age sobre os mecanismos de replicação do vírus, impedindo sua multiplicação no organismo. Combinados com as drogas já existentes, eles melhoram as respostas dos pacientes com infecções causadas pelo genótipo 1 do vírus da hepatite C, o mais prevalente no Brasil.
Em termos de diagnóstico, a boa notícia é uma nova tecnologia de imagem, a elastografia transitória hepática, para identificar e quantificar a fibrose provocada pela ação inflamatória do vírus no fígado. A progressão da fibrose é a causa da cirrose. Até pouco tempo, isso só era possível com realização de biópsia (extração de uma porção do tecido para análise). Mais rápido e seguro – além de não ser invasivo –, o novo recurso já está disponível em hospitais de primeira linha do Brasil. Em alguns países, como na França e Espanha, a elastografia já substitui a biópsia como critério para a liberação de medicamentos.
Outro avanço diz respeito ao desenvolvimento de marcadores genéticos para exame do sangue de portadores da hepatite C. Por meio da análise do gene IL28B, os médicos conseguem ter uma ideia de quem terá uma maior ou menor chance de resposta ao tratamento. Essa ferramenta tem potencial ainda para aprimorar no futuro os transplantes de fígado, permitindo determinar qual órgão doado é mais adequado ao paciente que vai recebê-lo. Estando ainda com o vírus no organismo, a possível reativação da hepatite nessa pessoa transplantada é sempre mais agressiva, podendo ser necessário o retransplante. Mas quando o paciente recebe um órgão com o genótipo favorável, ele conta uma melhor evolução. Atualmente, porém, isso seria inviável em função do déficit de doadores e do fato de o resultado desse exame genético, por enquanto, levar alguns dias (o transplante é feito assim que aparece um doador, em um prazo de algumas horas).

Os novos passos

Ter cuidado para evitar o contato com sangue contaminado é, por enquanto, a única forma de prevenir. Não há vacina contra a hepatite C (apenas conta hepatite A e B), nem indícios de que estará disponível tão cedo. Em contrapartida, outras opções de antivirais estão previstas para o futuro próximo. Há dezenas estudos em andamento, alguns em fases adiantadas. São medicamentos que prometem aumentar a eficiência do tratamento, atuar em todos os genótipos do vírus (1, 2 e 3) e diminuir os efeitos colaterais das drogas atuais. Além das questões relacionadas à resposta do organismo de cada indivíduo, uma das grandes limitações do tratamento hoje são as reações adversas causadas pelas drogas, principalmente pelo interferon peguilado. Entre elas estão dor no corpo, febre, mal-estar generalizado e diminuição da produção de glóbulos brancos e plaquetas. Essas reações adversas impõem desafios aos médicos, que muitas vezes precisam suspender o tratamento, apesar de ele estar sendo eficaz em relação ao combate ao vírus.
As novidades são bem-vindas. Mas, acima de tudo, é preciso explorar um trunfo simples: o exame de sangue para diagnosticar o contato com o vírus. É um passo essencial, que evita descobrir o problema apenas quando aparecem os sintomas, sinal de que a doença já atingiu estágios mais avançados.

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